Nunca como agora o mercado grossista de eletricidade suscitou tanto interesse aos consumidores, seja pelas novas tarifas de eletricidade que têm surgido, seja pela subida dos preços de energia durante o ano de 2022.
Neste artigo, vamos explicar como funciona o mercado grossista de eletricidade de Portugal e Espanha, o MIBEL, como o preço é fixado, de que forma influencia o preço da eletricidade diretamente nos consumidores e como poderá aproveitar o conhecimento sobre este mercado para poupar na fatura mensal de eletricidade.
O mercado grossista de eletricidade é aquele em que atuam os vários agentes de mercado. A energia é comercializada numa base diária e funciona com o objetivo de realizar transações de eletricidade, através da apresentação de ofertas de compra e venda, pelos diferentes agentes.
Na Península Ibérica, o mercado grossita de eletricidade é o MIBEL (Mercado Ibérico da Energia Elétrica), que resulta de um processo de cooperação desenvolvido pelos Governos de Portugal e de Espanha com o objetivo de promoverem integração dos sistemas elétricos dos dois países e, desta forma, trazer benefícios para os consumidores de ambos os países.
Este mercado, rege-se por um modelo marginalista, em que os produtores de eletricidade fazem ofertas com base no custo marginal de produção, que inclui, por exemplo, o custo com combustível, o custo das emissões, o custo variável de operação e manutenção e os impostos. Posteriormente, todas as ofertas são organizadas por uma ordem crescente. Por outro lado, as ofertas dos comercializadores para a compra de energia são organizadas tendo por base o preço da compra, numa ordem decrescente.
O preço de produção da energia para todos os produtores será o ponto de interceção entre a oferta e a procura, ou seja, o custo marginal de produção do último produtor que satisfaz a procura no período de licitação.
Os preços da energia são formados essencialmente com base na procura e na oferta, mas também influenciados por diversos fatores, como, por exemplo, o preço dos combustíveis fósseis ou o preço do CO2,. Mesmo antes do início da guerra na Ucrânia, no final de 2021, o preço do gás já esteve em máximos históricos, o que fez disparar os preços a que a eletricidade é comercializada no MIBEL.
Os preços são definidos pela última tecnologia que é chamada a dar resposta às necessidades. Começa por se responder à procura com as energias mais baratas, geralmente as renováveis e, à medida que estas vão escasseando, recorre-se a energias sucessivamente mais caras. Em 2022, o gás promoveu uma subida dos preços da eletricidade no mercado grossista - onde produtores vendem a sua eletricidade a comercializadores e grandes consumidores - já que os preços do gás tiverem em valores recorde devido às pressões impostas pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia, depois de a pandemia já ter vindo complicar os preços desde o ano passado.
Não obstante, estes não são os únicos fatores que impactam o preço da energia na Península Ibérica, as progressivas restrições ao desenvolvimento de soluções de energia nuclear, a diminuição da produção hídrica e o aumento da procura também estão correlacionados com o aumento.
Todavia, por outro lado, o crescimento das fontes de energia renovável, o aumento da geração descentralizada (produção de energia renovável para autoconsumo) e o aumento da eficiência energética contribuem para a descida dos preços no MIBEL.
De realçar que as subidas e descidas de preço não são imediatamente refletidas nas faturas de eletricidade da maior parte dos consumidores, porque os comercializadores adotam estratégias de cobertura, adquirindo antecipadamente energia para um período alargado.
O mercado grossista é um mercado liberalizado, assente na lei da oferta e da procura. Por conseguinte, os produtores de eletricidade são livres de introduzir o valor das suas ofertas de eletricidade na Omie, que é o sistema do operador do mercado diário. Aí, as ofertas dos diferentes produtores são organizadas numa lógica crescente, da oferta mais barata para a oferta mais cara, até que todas as ofertas juntas cubram a projeção do volume de eletricidade consumida para determinada hora.
Neste esquema, é a última oferta, ou seja, a mais cara, que dita o preço do mercado grossita de eletricidade dessa mesma hora. Por conseguinte, esse preço, o último, aplica-se a todos os outros produtores, mesmo que tenham feito ofertas mais baratas.
Por norma, os produtores que utilizam energias renováveis são aqueles que apresentam ofertas mais baratas, não apenas pelo custo de produção, mas também porque não têm possibilidade de armazenar a energia, retirando a eletricidade produzida através em centrais hídricas com barragens.
No MIBEL, todos os dias, pelas 12h00, são estipulados os preços e as fontes de produção de energia para o dia seguinte. Na tarifa de eletricidade indexada, o preço é indexado à cotação do mercado diário da energia, sendo que o cliente paga, a cada hora, o preço real da energia, acrescido de um valor pela gestão do contrato.
Tendo estas tarifas uma componente variável, que se baseia nos preços grossistas, o preço da energia (KWh) faturado ao cliente, estará sujeito à variação do custo de energia transacionada no mercado OMIE (Operador do Mercado Ibérico de Energia).
Numa tarifa de eletricidade indexada, como é o caso do Plano Leve Sem Mais da Repsol, os consumidores poderão seguir os preços e poupar na fatura de eletricidade. De uma forma sucinta, uma tarifa de eletricidade indexada tem as seguintes vantagens: